Quando eu fui pai ...

das duas vezes que recebi tal benção, paradoxalmente senti-me ausente de mim, a pairar, como se observasse de fora a calma que sempre senti nos momentos em que, no banco do hospital, depois de longos meses a construir gravidezes saudáveis e tranquilas, aguardava expectante a chamada da enfermeira de serviço: "venha conhecer o seu filho!". só aí algo se agitou no peito, perante as criaturinhas indefesas que me colocaram nos braços e a quem me fui vinculando de forma violenta nos dias seguintes. hoje acuso a ausência de convívio diário que vou vivendo. na certeza, porém, de ser divino, inviolável, o sentimento que nos une. é um desafio permanente, um acto dinâmico e complexo, feito de regularidades repetidas e de respostas a acontecimentos imprevistos. fonte de angústias, portanto. mas também, ah, de alegrias imensas: a (quase) incondicionalidade do afecto que se tem por e da parte dos filhos é fonte de grande conforto e estabilidade emocional. todo o amor, essa força viva que faz a vida valer a pena, é especial; mas o amor paternal, filial é indizível, há que experimentá-lo para o poder perceber. a vontade de abraçar, beijar, rir, chorar com os nossos filhos não tem termo de comparação conhecido. agradeço, pois, a benção de o conhecer.

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